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sábado, 2 de março de 2013

  Isto aconteceu de fato: um grande budista, homem de esclarecimento, foi convidado pelo rei para ministrar-lhe ensino. O nome do monge budista era Nagasen; o rei era o vice-rei de Alexandre. Quando Alexandre retornou da índia, deixou ali Minander como seu vice-rei. Seu nome hindu é Milinda. Milinda pediu a Nagasen que viesse ensinar-lhe. Estava realmente interessado e ouvira muitas histórias sobre Nagasen. Muitos rumores haviam chegado à corte: "É um fenômeno raro! Raramente acontece que um homem floresça, e aquele homem floresceu. Tem, ao derredor, um aroma de algo desconhecido, uma energia misteriosa. Caminha sobre a terra, mas não é da terra." O rei ficou interessado e o convidou. 
  Um mensageiro foi ter com Nagasen e voltou bastante perplexo, pois ele lhe havia dito: "Sim, se ele convida, Nagasen irá; mas diga-lhe que não há ninguém como Nagasen. Se é convidado, irá, mais diga-lhe, exatamente, que não há ninguém que seja 'eu sou'. Eu já não sou." O mensageiro ficou perplexo, porque, se Nagasen já não era, quem viria? Milinda também ficou perplexo e disse: "Esse homem fala por enigmas. Mas deixemos que venha." Milinda era grego, e a mente grega é basicamente lógica. 
  Há apenas duas mentes no mundo: a hindu e a grega. A hindu é ilógica e a grega é lógica. A hindu move-se nas profundidades das trevas, estranhas profundidades onde não há fronteiras, onde tudo é vago, enevoado. A mente grega caminha sobre a linha lógica, reta, onde tudo está definido e classificado. A mente grega move-se no conhecimento. A mente hindu move-se no desconhecido, e, ademais, no incognoscível. A mente grega é absolutamente racional, a mente hindu é absolutamente contraditória. Portanto, se encontrares demasiadas contradições em mim, não te aborreças - essa é a forma. Na contradição está a forma oriental de relatar. 
Milinda disse: - "Esse homem parece ser irracional, parece ter enlouquecido. Se ele não é, então como pode vir? Mas deixemos que venha. Eu provarei, apenas pela sua vinda, que ele é."


  Então, Nagasen veio. Milinda o recebeu ao portão e a primeira coisa que disse foi: - "Estou perplexo por teres vindo, apesar de haveres dito que já não és." 

Nagasen respondeu: - "Ainda digo isso. Portanto, vamos 
resolver o caso aqui mesmo." 
Um grupo reuniu-se, toda a corte apareceu ali e Nagasen disse: - "Tu fazes as perguntas." 
Milinda perguntou: - "Dize-me, antes de mais nada: se algo não é, como pode vir? Se, em primeiro lugar, ele não é, então não há possibilidade para a sua vinda; mas tu vieste. É simples lógica a constatação de que tu és." 
Nagasen riu e disse: - "Olha para este ratha" (o carro em que tinha vindo). Olha para ele. Tu o chamas ratba, um carro puxado por cavalos." Milinda confirmou. Então Nagasen mandou que seus acompanhantes retirassem os cavalos. Uma vez desatrelados os ani¬mais, Nagasen perguntou: - "Os cavalos são o carro?" 
Milinda disse: - "Claro está que não!" Então, aos poucos, tudo quanto havia no carro foi sendo retirado, parte por parte. As rodas foram removidas, e ele perguntou: - "Estas rodas são o carro?" Milinda disse: - "Está claro que não!"


  Quando tudo foi removido, nada mais restando, Nagasen indagou: - "Onde está o carro em que vim? Não removemos o carro, e tudo quanto foi removido não era, segundo foi confirmado, o carro. Assim, onde está o carro?" 

  E Nagasen explicou: - "É exatamente assim que Nagasen existe. 
Remove as partes e ele desaparecerá." Apenas linhas cruzadas de energia: removam-se as linhas e o ponto desaparecerá. O carro era apenas uma combinação de partes. 
  Tu também és uma combinação de partes, o eu é uma combinação de partes. Remove coisas, e o eu desaparecerá. Por isso é que, quando os pensamentos são removidos da percepção, não podes dizer eu, porque não há eu - apenas um vácuo é deixado. Quando os sentimentos são removidos, o eu desaparece completamente. Tu és, e contudo não és: és apenas uma ausência sem fronteiras, vacuidade. 


  Osho - Tantra a suprema compreensão

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